quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O FLERTE



Outro dia um primo meu lá do Rio convolou núpcias. Grande evento na família Zequinha ter casado, tanto que num lapso de extrema sinceridade, o noivo interrompeu a cerimônia para confidenciar, diante de seus mais de 200 convidados, que nunca imaginou que aquele dia pudesse de fato chegar. Sabe como é, carioca, surfista, bicho acostumado a andar solto, muito embora, ao que sei sobre seu respeito, trata-se de sujeito muito bacana, decente e trabalhador. Casou-se com uma produtora da Globo e por conta disso os bancos da igreja estavam todos estrelados. Olha, aquele ali é o Marcelo Serrado, cochichava a cônjuge no meio do sermão. E esse aí, sentado ao seu lado, é o Marcos Palmeira. Ah, e tá vendo lá na primeira fila? Nossa, como é mais bonito ao vivo... Marcelo Novaes? De minha parte, só reconheci a Luana Puovani, que ao final da cerimônia desfilou pelo corredor central numa pompa tal, que alguém precisava ir lá avisar a ela que não era a noiva e sim a madrinha da noiva. Sondagens globais à parte, antes de acabar a missa o meu primo interrompeu de novo o cerimonial para convocar a presença do presbítero também na festa. Ao melhor estilo carioca, recorreu ao tentador argumento de que o pároco deveria relaxar um pouco da agenda sacramenteira com umas cervejinhas. Muito educado ele agradeceu, mas não foi, nós sim fomos ao clube dos Macacos, um lugar lindo, cercado de palmeiras imperiais, estrategicamente localizado num ponto alto e isolado do Horto Florestal.
Chegando à festa, a orgia etílica já desfilava a todo vapor em cima das bandejas. Um tal de Prosecco pra lá, cerveja pra cá, até uísque naquela noite cálida descia bem em mim por causa do gelo. Até que chegou aquele momento X das festas de casamento em que de duas uma: ou o DJ fica muito bom, ou simplesmente a bebida sobe à cabeça da turma (ou a conjugação dos dois), enfim.. Fato é que de uma hora para outra todo mundo levanta da mesa, desiste de papear, e vai aos pouquinhos se aproximando da pista de dança. Isso aconteceu quando minha caçula de um ano dormia pesado no carrinho de bebê e a de seis se aconchegava por conta no sofá. Cenário perfeito para dois filhos adultos de Deus, no caso eu e a cônjuge, lembrarmos que há sim vida fora do núcleo familiar. Fomos também para a pista aproveitar o convidativo set list do DJ, que à ocasião recorrera ao hit “Jungle Boogie” de George Clinton. Feliz da vida, fechei os olhos, mergulhei na melodia da música, quando de repente um cara de porte razoável invade a rodinha e vem seco na minha direção:
- Escuta aqui mermão. Se liga aí que tu não tira o olho da minha mina, tá ligado?
- Como assim?
- É. Até ela já veio me dar um toque. Faz seguinte. Fica na manha, pára de olhar pra ela e eu te dou um desconto e faço de conta que nada aconteceu.
- Olha, entendo tua preocupação, mas na boa? Tô aqui na minha, curtindo o casório do meu primo ao lado da minha mulher (apontando-a), e até as nossas filhas estão aqui. Tá vendo aquele carrinho de bebê ali? É a pequininha. A mais velha é aquela babando lá no sofá, ao lado da piscina. Sinceramente? Nem sei quem é a tua mulher..
- Não vem com 171 pra cima de mim que antes da minha mina falar que tu não tira o olho dela eu já tinha sacado todo o movimento.
Nesse momento de reiteração da participação da garota na crença de que eu a cobiçava, o sangue subiu à cabeça, e mesmo o sujeito sendo o dobro de mim, senti um enorme desejo de mandá-lo para a meretriz que o pariu. Ao invés, porém, de partir para o tapa, com o corpo e a mente anestesiados pelo álcool, adotei uma postura mais política:
- Cara, olha aqui no fundo dos meus olhos...
- Eu te amo. Vá com Deus. – estendi-lhe a mão
Impressionante como a frase “eu te amo”, depois a “vá com Deus” seguida de uma mão estendida anulou o ímpeto do machão. Durante e depois de cumprimentá-lo, o sujeito ficou um tempo parado diante de mim, estatuesco, até esboçar uma careta de não mais saber por que raios estava ali. Saiu de mansinho, tão de mansinho, que nem de longe lembrava o pit-bull de minutos antes avançou. Ainda passei um bom tempo curtindo e dançando na pista sem mais vê-lo por perto. Inclusive, sinto bastante não ter matado a curiosidade de descobrir se além de insegura, a namorada do cara era bonita. Curiosidade meramente científica, já que tenho uma teoria (ainda não definitiva) de que quanto mais bonita a mulher, mais insegura. Queria, portanto, coletar bases empíricas mais robustas antes de afirmar com segurança se há mesmo essa tendência, uma vez que regra absoluta eu também já sei que não é. A caminho do hotel, no táxi amarelinho, com a cabeça deitada sobre o ombro da cônjuge, apreciando a caçula desmaiada no bebê-conforto, sentindo as pernocas da mais velha sobre meu colo, lembrei que felizmente as minhas mulheres são lindas e seguras.

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